sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Os Sete Hábitos para Infelicidade - O Agourento 7/7

"Aqui todos me perseguem." "Estão pensando em restruturar a área, lógico que é o primeiro passo para privatização". "Saio de casa e a minha lixeira está vazia. Chego e tem lixo. Aposto que o é vizinho." "Ouvi um pessoal falando mal de você."
O último hábito da infelicidade é o de ser um profeta do apocalipse: de si mesmo, dos outros e da realidade onde inserido.
É aquele hábito de quem precisa de teorias de conspirações - reais ou imaginárias, para ocupar-lhe o tempo. Não só nutre percepções de que estão tramando contra ele, em algum lugar, em alguma sala fechada, como aprende a semear a intriga e as divisões - "as tramas do submundo do crime".
Nesse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar mau.
E, "nada é tão ruim que não possa piorar".
As pessoas são más. Tudo é negativo. Tudo.
E, não basta assim pensar, é preciso externalizar esse sentimento com porta-estandartes de dor: porta-dores.
De tanto pensamento assim que o cérebro processa não há mais lugar para a confiança, a esperança, a bondade, gratidão e compaixão para com o outro. Vive-se sob o império do "cérebro reptiliano" que se enche dos hormônios do estresse: adrenalina e cortisol; capacitando-nos continuamente para a guerra, em comportamentos de ataque, defesa ou fuga.
Como um liquidificador, os pensamentos vão triturando tudo e todos ao redor.
O pior, as pessoas viciadas nesse hábito se aliam formando verdadeira comunidades de sofredores, pessimistas ou vítimas de todo tipo de opressão, ou de vilões.
Ninguém escapa do viciado em dor: filhos, família, amigos, vizinhos, membros da igreja, do grupo de lazer, ninguém lhe escapa. Tem sempre alguém para criticar, ou para colocar-lhe no teatro de uma intriga, ou uma conspiração.
A pessoa acaba por gostar de viver esse papel de vítima. Na cabeça só há espaço para pensamento do tipo.
Passa o dia pensando em coisa ruim, em tudo que não presta.
Doenças, inveja, mágoas encardidas, puxadas de tapete que levou, fechadas no trânsito, fechadas na vida. Ou em armações contra ele, nas tramas e intrigas de "Estado". Todos com os quais convive podem ser suspeitos, traidores, ou não-dignos de confiança e respeito. Só ele presta e é confiável.
Vive no medo, medo da entrega, medo de criar vínculo, medo de ser atacado.
Afinal, para esse hábito de infelicidade, o mundo é um lugar ruim, perigoso, sempre em guerra e que precisa de um estado de alerta permanente, de postura para o ataque.
E, caso não haja guerra aparente, armam-se para uma que ainda virá.
Esse hábito precisa ser estancado.
Esse curso de infelicidade precisa ser alterado.
Um caminho possível, mas não fácil, é o da reeducação postural-atitudinal.
Desenvolvendo outros sentimentos mais positivos sobre si mesmo, sobre a vida e sobre os outros. Investindo em gestos de gratidão, escrevendo um diário com anotações das bênçãos.
Saindo de círculos pessimistas, excessivamente negativos, sejam reais sejam virtuais.
Fazendo crescer outros sentimentos, no jardim do coração.
Reaprendendo a confiar, um confiar sem tanta exigência, sem tanta expectativas, sem tanta cobrança.
Reaprendendo a criar vínculos saudáveis, positivos, com pessoas e grupos que elevem nosso espírito.
Onde mora nosso pensamento, mora nossa ação sobre o mundo. Que ela seja transformadora e positiva, o que não significa que será alienada e boba.
Vive em estado de alerta, de desconfiança e medo rouba a luz - por mais radiante que seja o dia.
Priva o ser de novas experiências, recomeços, "acreditações".
Surrupia-lhe o que tem de melhor, a arte de encantar-se com a maravilha de viver, a arte de assombrar-se com as coisas que só olhos atentos para o mundo, olhos que estão presentes, conseguem perceber.
Nega-lhe o dom de ver o belo, mesmo que muitas das vezes escondido em meio a tanta dor.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Os Sete Hábitos para a Infelicidade - Juízo de Valor 6/7

"Jamais me perdoarei por aquela decisão que tomei."
"Acho que o casamento de meu amigo é uma fantasia.".

Tem um hábito cruel que molda o curso das águas de nossos pensamentos em terrenos difíceis: o do julgamento.
Nele, o pior juiz somos nós mesmos.
É como se estivéssemos sempre na posição de julgar.
Colocando as emoções no tribunal. Julgamos o outro com severidade. Falta-nos compaixão, ao desenvolver esse hábito.
Todo mundo está em julgamento, e no juri perverso que criamos, ninguém recebe atenuantes, defesas favoráveis.
No hábito do tribunal emocional o mundo é repleto de mocinhos e vilões.
Não se concebe que um mocinho pode ser  vilão, vez por outra, ou um vilão pode ser mocinho.
As coisas, no tribunal das emoções, são vistas em termos binários 1 ou 0; 0 ou 1.
Severos demais, exigentes demais, perfeccionistas demais.
Todos que nos rodeiam, quando temos esse hábito muito extremo, estão nos devendo algo.
Estão precisando pagar-nos "dívidas" afetivas para serem aceitos.
Devendo-nos atenção, reconhecimento, amor, perdão, gentileza.
Ou sejo julgados pelos decretos do direito emocional da inveja, mágoa, rancor e desamor.

Uma outra forma de julgamento severo é para conosco mesmo.

Aquele concurso que não passamos, aquela relação sentimental que fracassou, aquela promoção que não veio, aquela decisão que tomamos e que nãos e revelou promissora. Abre-se as emoções ao buraco negro do passado, na sua força impressionante chamada de culpa. A culpa arrasta-nos para um lugar de não-ação, de pouca energia para virarmos as páginas. A culpa suga tudo ao redor, tal qual um buraco negro na física quântica.
Quando mergulhados no hábito do tribunal emocional, acabamos sendo o pior juiz de nós mesmos, e dos outros, minando nossa esperança e confiança em tempos melhores.
A aceitação de si mesmo é um passo concreto para alterar o curso do rio dos pensamentos, que correm nesse padrão de comportamento infeliz.
É fácil julgar o passado com os olhos do presente.
Fácil e de profunda crueldade. Aceitar-se é fundamental para fechar janelas da alma. Ao nos aceitar, em nossas limitações, carências, medos, manias e imperfeições abrimos espaço para que a estima por nós mesmos cresça.
Consequentemente, passamos a desenvolver a atitude da compaixão, ou da misericórdia, ao nos ver, a todos, dentro do mesmo balaio de não-completude, de não-perfeição.
Ficamos mais humanos, compreensivos com as diferenças, flexíveis a outras vistas de um ponto, ou outros estilos de vida.
Sair da posição de juiz ou "advogado do diabo" nos conecta a uma energia maior, a da aceitação, do perdão e da resiliência. As pessoas têm direito ao erro, a não funcionarem exatamente como queremos, a não nos oferecerem o que estamos precisando.
E, não precisam ser julgadas com severidade por essas expectativas não atingidas, condenando-as à pior das penas emocionais: a indiferença.
Seja para com o outro, seja a mais grave, para com nossa própria vida.
Decrete um habeas-corpus para você mesmo e livre-se das prisões do juízo de valor.

domingo, 13 de setembro de 2015

Os Sete Hábitos da Infelicidade - Vivendo no Palco 5/7

"Não conseguir lidar com a falta de sucesso".  "Após o fracasso nas olimpíadas tive depressão" "Acho que todo mundo se preocupa muito com minha vida. Chego no trabalho e noto os olhares". "Preciso de agitação, as coisas andam muito paradas".

Esse é um hábito para a infelicidade que vem do atuar, nos diversos palcos da vida.
Muitos líderes sofrem disso e arruínam sua vida ao saírem do palco, de qualquer que seja o palco.
Fica-se refém de admiração, de estímulos, de aceitação e de se sentir notado. A infelicidade vem de não se repetir com a mesma intensidade vivências prazerosas passadas, ou a se cobrar sempre mais e mais e mais. em alta rotação emocional, ou intensidade, a vida vira um show contínuo, e fica-se a espera - após cada atuação, dos reconhecimentos e aplausos.
Escravo do sucesso, status e do personagem que criou para nele viver, habitando no palco.
O palco é pouco acostumado com vaias.
Com não se fazer notado. Com silêncios após o show.
O palco é lugar de vitórias, de brilho, de realização.
O problema é que não se vive no palco.
Na vida temos os vales, os momentos de frustração, de ostracismo, de não-luz e palmas. E até de esquecimento.
Quem se acostuma no palco, quando passa a viver nos bastidores, no escuro das coxias, ou até quando não é mais convidado a atuar, morre um pouco cada dia.
Uso o palco como uma metáfora.
Têm família-palco, na sua relação com os filhos, noras e genros. Tudo tem que girar em torno delas nelas. Tem empresas-palco na sua relação com os funcionários.
Têm igrejas-palco. Têm trabalhos-palco.
Têm até relacionamentos-palco.
No palco não há lugar para derrotas. Para limites e perdas.
No palco tem-se a falsa sensação de onipotência.
De que as cosias sempre darão certo, e fica-se embriagado com as sensações derivadas de estar sempre no limite, superando-se.
Viver no palco é viver sempre em alta-rotação. Não se descansa no palco.
Uma vida repleta de exposição, com carência de estímulos e reconhecimentos. Como se a vida estivesse sempre lhe devendo pedido os "pedido de bis".
Viver querendo ser notado, ou achar que é tão importante a ponto de quando chega no trabalho as pessoas pararem o que estão fazendo para notarem sua presença é uma fantasia de dominação, de poder.
A mesma pessoa que cria a fantasia, cria os sofreres pela sua não realização.
Quem vive no palco a alegria é sempre pela metade.
Sempre escuta a vozinha: "foi bom, mas poderia ter sido melhor". nunca contenta-se por inteiro e de forma plena com o que tem, afinal, o show da vida exige dele sempre mais.
Quer ser modelo para todos, vive de satisfações, e precisa de colo a  todo instante.
Adora encenar papéis mórbidos para com eles despertar aceitação, compaixão e cuidados.
Você liga para uma pessoa com esse curso de tristeza e ela debulha todos os problemas em você:
o filho que não ligou, o tempo que fechou, o vizinho que a observa, a grana que mingou, a saúde que esculhambou.
É o teatro da dor. Não que não exista. Apenas é superdimensionada, dramatizada ao extremo para receber migalhas de afetos. Depressões de origem palco são comuns em tempos narcisistas que vivemos, e de forte apelo material.
Cantores, padres, atletas, líderes corporativos... ninguém escapa do preço da fama. No primeiro espetáculo que não venda ingressos, ou que a plateia o vaie, o mundo cai. A casa cai.

Costumo dizer a tipos assim: saia do palco. Pare de querer representar algo que não é, só para poder ser aceito. Trabalhe essa necessidade de ser amado, estimado, adorado, trabalhe melhor essa vaidade do eu.

Alguém nem vai está aí pra você, e daí? Alguém vai lhe vaiar, e daí.

As pessoas têm direito a não gostarem de uma ou outra cena de teu viver.

Ninguém é unanimidade, alguém não gostará de seus almoços domingueiros, a vida pede outros palcos, cenas, peças, personagens, e que tal parar de se dar tanta importância?
Permitindo-se ser plateia, vez ou outra? Permitindo-se ser vagão, no lugar da locomotiva de seu lar? Permitindo-se comer da comida dos outros familiares, no lugar de sempre ser quem os recebe? Permitir-se admirar o outro, no lugar de cultuar sua própria admiração.
Que tal sair da posição de ser adorado, quase como um deus?
Da posição da perfeição, dos rígidos padrões de comportamentos, do não aceitar os erros e falhas cometidos, seja por você, seja pelos outros.
Que tal ser feliz no lugar que já chegou?
Tem gente que vive na provisoriedade. Sempre insatisfeito, sempre em dívida consigo mesmo, com a vida. Sempre, após o show da vida, no lugar de celebrá-lo, já pensando no próximo show, nos "fundamentos que precisa melhorar para a próxima partida".
Sofrem de rotação gravitacional do eu. Estão sempre em espera de admiração, e tudo gira em torno delas mesmas.
Para a felicidade plena faz-se necessário desaprender esse hábito de vida-palco.
E descer ao mundo dos mortais, desenvolver a humildade, sem ser subserviente.
Cultivar um estilo de vida mais simples, se tanto consumo, vaidade ou ostentação.
Permitir-se a pastel de feira, como falo.
Deixar de se ver como centro das atenções, saindo dos holofotes do palco do viver, e curtindo a plateia, os bastidores, ou as coxias. Romper as algemas do palco, feitas de orgulho e vaidade.
Deixar de ser escravo de um papel, personagem e única peça, por mais estímulos que lhe traga, abrindo-se à outras possibilidades de si mesmo, ainda pouco exploradas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Os Setes Hábitos para a Infelicidade - Lentes Emocionais 4/7


"O chefe sempre pede os piores serviços para mim, e quando o pessoal não entrega o trabalho a tempo. Acabo sendo convocado para apagar o incêndio. Acho que ele me persegue".
"Vou fazer uma limpeza no meu Face, cansei de aniversariar e poucos me saudarem. Só vou ficar com quem gosta de mim".
Nos diálogos acima existem fortes evidências de que a lente emocional está precisando de um melhor ajuste, para uma possibilitar uma outra compreensão da situação.
Nossa psiquê funciona como uma máquina fotográfica. quem gosta de fotografia usa três variáveis para trabalhar uma foto: a velocidade do diafragma, a abertura da lente e o foco. Dessas três, gostaria de fazer uma analogia com o foco.
Tem fotos que ficam desfocadas. Tem fotos que apensar de focadas, com um zoom muito forte, perdem o contexto, a paisagem. Aproxima muito. Outras, com um zoom muito distante, acaba traduzindo a realidade a simples pontinhos longínquos. minúsculo e tudo vira um pontinho na tela, contudo tem-se a noção do espaço.
Utilizar uma ou outra técnica é uma questão de aprendizado. uma questão de entender qual o motivo que se quer destacar e como trabalhá-lo da melhor forma.
Assim é com a vida. Têm coisas que para vivê-las precisamos regular o foco. Sofrer de lentes desfocadas emocionais é um mal do século. Sensíveis demais, carentes demais, exigentes do outro - e de nós mesmos, demais. Tudo fica ampliado. Ou, tudo é visto de muito longe, quando precisa ser visto de perto. Ou de perto, quando precisa-se mesmo é ver de longe.
Fica-se precisando de uma visita a um oftalmologista de almas. Ao sofrer com a miopia de realidade ou a vista cansada da indiferença.
Um dos bons oftamologista de almas é o autoconhecimento, um outro é do domínio da espiritualidade.
Visitá-los é urgente para não perder os bons momentos da vida ao percebê-los de forma errônea, ou não percebê-los, ou destacar o que deve ser relevado, dado um desconto.
Ao se olhar a vida apenas pelas lentes da emoção.
Lentes desfocadas que distorcem a realidade para que ela caiba dentro dos meus pensamentos. Pessoas altamente emotivas, supersensíveis, sem nenhuma casca grossa, vão passar por momentos de infelicidade na vida. Viver exige alterar o foco de nossas lentes. Seja para melhor perceber uma situação; seja para ver de longe algo, transcendendo a nós mesmos; Seja para ver de perto algo, agindo localmente na solução de problemas.
Nos exemplos que abriram o texto, o da pessoa que reclama de que só recebe trabalho do tipo apaga-fogo, será que não pode ser também justamente o contrário? Ou seja, será que chefe confia tanto no seu funcionário, a ponto de no último instante, quando sente que a vaca está indo para o brejo, pedir-lhe ajuda? No caso do Facebook, será que quem não parabenizou, curtiu, comentou ou compartilhou; não gosta mesmo da pessoa? Será que não esqueceu, não entrou, não estava bem naquele dia, ou simplesmente estava sem rede ou micro?
São distorções emocionais que levam ao sofrer.
Tem gente que se habitou a procurar razões para se sentir diminuído. Lentes desfocadas. Acha que tudo é com ela, ou contra ela. Sofrem muito. Outro dia uma aluna-mãe me abordou sobre seus domingos à tarde. Sentia-se uma serviçal.
A mãe reclama que o filho leva os amigos para almoçar em casa nos domingos e fica uma pilha de louça para lavar. Passa a tarde resmungando, com lentes emocionais ampliadas dizendo-lhes que ela é uma "doméstica dos filhos".
Alterar o foco e olhar de longe ajudaria a essa mãe a perceber outras facetas: Quantos filhos passam domingos com seus pais? Quantos filhos, além de passarem o domingo com seus pais, ainda sentem-se confortáveis para levarem os amigos? Quantos amigos vão iriam querer almoçar na casa de seu filho, se ali não se sentissem bem, mesmo que convidados? Quanta louça pode ficar acumulada para a segunda?
Quantas técnicas poderão ser usadas, e com amorosidade, para que todos se sintam envolvidos também com a arrumação?
Mas, quem sofre de lentes desfocadas acostuma-se com elas. Uma pena. Fica com vida cansada, no lugar de vista cansada. Com miopia afetiva, no lugar de miopia ótica. E, com cataratas emocionais, no lugar da quelas nas retinas.
Precisa consultar seu oftalmologista de alma interior - sua consciência, para se ajudar. E, parar de olhar com lupa para sua vida, procurando nela razões para ser infeliz. Preparar sua câmera fotográfica para focar nas cenas boas, no lado bom da vida, nas coisas boas que todos os dias acontecem, mas que nossos olhos opacos pela indiferença já não as veem mais.
Para a boa saúde oftálmica interior têm coisas que precisarão ter o foco emocional ajustado para vê-las de longe, dentro de um contexto, de uma conjuntura, de um quadro referencial maior. Naquela hora que dizemos: "não é só comigo".
Outras precisam ser vistas de perto. Ser quase que admiradas, contempladas, percebidas em toda sua riqueza e completude. As boas coisas que nos acontecem estão nessa categoria, pena que a indiferença vai nos cegando.Pessoas que moram de frente à praia e não mais a vê, por exemplo. Ou que têm uma família linda, mas só aprendeu a cobrar dela, ou ver o que nela falta para ser perfeita.
Por último, seguindo uma analogia comas opções de ajuste do foco: perto; longe e normal, algumas precisam ser vistas com normalidade. Paciência, aconteceu, o celular caiu na privada. Quebrou, paciência. O carro levou um amassado no estacionamento, paciência. São coisas que foram ficando normais, caso eventualmente acontecem. O que não nos diz que não ficamos irados, mas a ira precisa passar logo.
Dos três ajustes de foco, o mais grave, ainda não citado nesse texto, é o do "não ajuste". O das lentes das lentes desfocadas.
Esse é o da alienação. Do distanciamento e apatia de si mesmo, dos outros e da vida. Tudo é visto borrado, distorcido, ampliado ou diminuído. Não é focado, como nos casos anteriores. é desfocado por uma emoção fora de lugar.
A pessoa sofre de uma aberração emocional oftálmica, sempre vendo a realidade de forma incompleta, distorcida, borrada, com excesso de fantasia ou de realismo trágico. Vive-se num teatro dramático no qual tudo vai pro palco de forma embaralhado, sem foco algum.
Viver bem é a arte de ajustar as lentes emocionais.

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Nota: As boas lentes, numa máquina de fotografar, ao serem giradas cumprem o importante papel de ajustar o foco: seja para melhor captar objetos de perto; seja para aproximar os ao longe, seja para colocar o plano da foto naquele de nossa visão (50mm).
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domingo, 6 de setembro de 2015

Os Setes Hábitos para Infelicidade - A Hiper-Reflexão 3/7

"Ninguém mais é amigo de ninguém".
"Todos os políticos são corrutos"
"O povo daqui é ruim."
O hábito para a infelicidade da hiper-reflexão torna a pessoas escravas de seu ego (consciência). Tornando-as muito observadoras de si mesmas, e perdendo a espontaneidade.
Esta excessiva atenção voltada para o eu (consciência) suscita espasmos de mal-estar generalizado.
Afinal, um pouco de ignorância, de não saber, é vital para a felicidade.
O excesso de reflexão-  a hiper-reflexão[*],  tem como uma das principais manifestações as profecias auto-realizadoras, por exemplo: "Não dou certo em relacionamentos." "Sei que vou travar na entrevista". "Todo chefe me persegue".
Além de ser expresso nas profecias auto-realizadoras, o hábito da hiper-reflexão também se faz presente em pessoas com uma overdose de certezas racionais sobre ela mesma, os outros e a vida - verdadeiros dogmas imutáveis, quase místicos.
Isto dificulta a abertura da pessoa a novas experiências, culturas e aprendizados.
A aura pseudo-intelectual de inteligência não-emocional vai tingindo a vida com tons fúnebres, pesados, sem espaço para o homo-demens e ludens: homem que fantasia e que brinca.
De tanto crerem que as coisas são assim mesmo, elas acabam moldando-se à sua percepção - como quem a lhes dar razão.
O hiper-reflexivo fica com a percepção seletiva, pronta a lhe dá razão, no elementos que filtra da realidade, vista como um bloco monolítico.
Não há espaços para nuances, para degradês.
Tudo é, ou não é.
A hiper-reflexão perde-se em si mesma, não havendo espaço para o irradiar de novas possibilidades que cada situação carrega em si.
De tanto dizer que ninguém presta, que não confia em ninguém, a realidade se moldará a essa crença.
Ninguém irá prestar mesmo.
Na hiper-reflexão, somos sempre vítimas. Nunca temos culpa ou responsabilidade. Depositamos no outro, na vida, nas circunstâncias a nossa felicidade, e passamos o dia a refletir sobre limites, escassez, riscos e falhas.
Um outro tipo de hábito, da mesma etiologia, é o de passar o dia hiper-refletindo sobre doenças físicas ou emocionais. Os sobre as coisas que não deram certo. É um hábito parecido com a ruminação, contudo mais abrangente. Não poupando nada a esse motor do pensamento. Técnicas de relaxamento, de meditação, podem ajudar. Caminhar, focar objetivamente noutras coisas, usando a própria razão para combater o excesso de razão é um caminho.
Perceber as exceções contidas na mesma realidade, será um bom antídoto à doença do excesso de reflexão. No limite, cultivar valores emocionais: a espiritualidade, a empatia, a compaixão, as artes, a o respeito à diversidade, a humildade, o brincar, o lazer, e um pouco de loucura santa de todo tipo de amor - que valha a pena.
Só a inteligência emocional (IE) conseguirá desligar o motor do pensamento auto-centrado, do ego inflado, do turbilhão de pensamentos sobre tudo e todos. Ela, a IE, com suas competências da capacidade de criar vínculos sociais, da esperança, do otimismo, da empatia, de se relacionar, de se auto-conhecer e do humor poderá resgatar em nós aquela criança que um dia soube fantasiar e brincar com a existência, sobrevivendo - não sem arranhões, às intempéries da vida.
Livre da hiper-reflexão, abriremos espaço para uma nova estética do pensar, um pensar liberto de doutrinações, conceitos petrificados e as prisões imaginárias da razão.
Diminua a hiper-reflexão, contrabalançando-a com a inteligência emocional.
Nota Explicativa: Reflexo vem do Latim RE: outra vez, novamente + FLEXUS, “dobrado, fletido”, do verbo FLECTERE, “dobrar”.
“Reflexão”, no processo mental, acontece quando nos voltamos ou “dobramos” nosso pensamentos para um assunto. HIPER, significa algo em excesso, designado para ampliar o termo "super".

sábado, 5 de setembro de 2015

Os Sete Hábitos para a Infelicidade - A Eletrostática Relacional 2/7


"Hoje você se superou nos erros no trabalho”.
"Você poderia passar menos tempo no computador”.
“Você sempre está errado. Sempre!”
“O mundo seria melhor se todos pensassem como penso.”

As frases acima, são mera ficção, contudo qualquer semelhança não será mera coincidência.

Há relacionamentos nos quais toda a tesão foi substituída pela tensão. Relações tensas; carregadas de cobranças, de punições, de jogos dramáticos do tipo: “Eu ganhei, você perdeu”; “Eu não errei, a culpa foi sua”; “Eu estou certo, você errado.”

Você já deve ter convivido com pessoas tão carregadas que ao tocar nelas é como se levasse um choque.

Ou, viveu relações que mais pareciam uma disputa de cabo de força.

Cada um puxando o outro, mas sem espírito competitivo, espírito do brincar. O espírito era do dominar e arruinar o outro, eliminando qualquer espaço de convivência harmoniosa.

Existem cursos do rio da infelicidade frutos de relacionamentos doentios, relações que substituíram a tesão da convivência pela tensão. Quase gerando energia, no contato entre eles seja por atrito, contato ou indução, conforme a nota explicativa acima.
Um vai sugando a energia do outro, exaurindo.
E o pior que se habituou nesse hábito de infelicidade acaba gostando desse pseudo-poder, replicando esse comportamento explosivo, do tipo: “eu estou sempre certo e você nunca”, até nas reuniões da igreja em que participa.
Trata-se de uma espécie luta emocional para dominar o outro.
Aí, perde-se o encanto e admiração no relacionamento.
Todo dia é briga, briga, briga sobre briga.
E não é só em casamentos.
O comportamento se reproduz na vida social, no lazer, junto aos amigos, colegas de trabalho. Se for o chefe, ou um outro tipo de líder institucional, coitado de seus liderados e de suas famílias – sofreram todos.

O portador do hábito da Eletrostática Relacional morre um pouco todos os dias, da pior das mortes: a solidão.
Ninguém o suporta mais, e vão saindo de fininho quando ele chega.

É um curso de um rio dos pensamentos para a infelicidade.

Nele, há pouca, ou nenhuma tolerância e flexibilidade.
São como aquelas malas rígidas que tentamos colocar nos porta-malas de aviões. Dão um trabalhão danado, quando já estão cheios, enquanto aquelas mochilas desafiam as leis de espaço e volume e ao se espremerem acabam entrando em qualquer lugar.

Creio que algumas relações vão ficando tensas, rígidas. E as pessoas sem querer alimentam isso. Jogam combustível, todos os dias, na fogueira dos conflitos. Provocam, soltam iscas, quicam a bola, tudo para começar mais uma vez o jogo do: eu estou certo, você está errado.

A pessoa viciada nesse hábito infeliz tem dificuldade de aceitar críticas, feedback, orientação.

Afinal, se acha um pequeno deus, e todos devem-lhe subserviência, ao expressarem a autoridade.

Vou compartilhar uma história.

No início de minha vida paterna eu era assim para com meus filhos. Excessivamente tenso. Implicava com tudo.
Os banhos não tomados na hora acordada, a TV sempre ligada, a comida deixada no prato, o cachorro sujando a casa. Até que caiu a ficha que eu estava ficando rabugento. Um pai rabugento. Sempre tenso, cheio de cobranças, nunca relaxando e deixando as coisas ajeitarem-se por si só, ou aprendendo a conviver com elas.

Eu não vivia mais a tesão da relação de ser pai.

Durou uns dois anos, acho que eu estava assustado em ser pai tão jovem(19); e esse modo de ser me dava uma falsa sensação de segurança, uma pseudo-percepção de poder.

E isso causa um barato. Por isso vicia. E é aí mora o perigo.

Eu chegava em casa e o Tiago, com dois anos à época, tinha que parar de brincar para que eu “descansasse do trabalho”. Vê se pode?
Era muita cobrança em cima do coitado, nem um copo ele podia quebrar sem levar um cascudo.
Um dia acordei e vi que eu estava me perdendo, afundando-me num jeito de ser tenso, chato, triste e perdendo os melhores anos de meu viver.
Então, desapeguei e deixei as coisas serem mais leves, menos planejadas, menos controladas, menos certinhas... Avacalhei geral com as crianças e me converti ao amor.

Mudei, ainda bem, e a tempo de não destruir a autoestima de meus filhos.

Então, querido amigo(a) se você é do tipo que pega no pé de todo mundo. Que todo dia seu Bom Dia é apontar problemas, falhas, ou situações de que não gostou, convido-lhe a desapegar-se desse hábito para a infelicidade.
Transforme sua energia em tesão, pela vida, pelo outro, até por aquilo que não deu tão certo, ou não funcionou como planejara.
Paciência.
Desapegue-se do “eu estou sempre certo, e você...”
Bota no OLX.
Esse ambiente claustrofóbico vai matar ou envenenar a ambos.
Declare um armistício. Um tempo de paz. Não provoque o cão com vara curta. Tenha mais compaixão e empatia e recupere o encanto de ver no outro o que ele tem, e não o que não tem e lhe faz falta.
Use a sua energia interior na atração, contato e indução de pessoas às emoções positivas, com práticas de empatia solidariedade e convivência amistosa e saudável.

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Nota Explicativa: A eletrostática estuda a eletricidade estática e seu acúmulo num determinado corpo. A corrente elétrica pode ser gerada por Atrito - Corpos de materiais diferentes, ao serem atritados, perdem ou ganham elétrons; por Contato: ao se estabelecer contato, um corpo condutor eletrizado eletriza outro condutor com carga de mesmo sinal. E, por Indução:  Um corpo eletrizado (indutor), ao se aproximar de um corpo condutor neutro, induz cargas em sua superfície (induzido).
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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Os Sete Hábitos para a Infelicidade - A Ruminação Mental 1/7

"Aquela entrevista do processo seletivo acabou comigo. Não concordo com o feedback que recebi de que tenho pouca iniciativa. Tenho muita iniciativa. E, iniciativa quando, como? De que iniciativa eles falaram? Nem curso com o nome de iniciativa existe. E a iniciativa deles? E como eles sabem se não viram minha iniciativa".
[um mês depois] "A iniciativa deveria ser mais explícita. Como barrar um candidato com termos tão subjetivos como iniciativa?."

No exemplo acima, o colega sofre de ruminação mental, vejamos no dicionário o que significa Ruminação:
s.f. Ato ou efeito de ruminar, de submeter a segunda mastigação, após reconduzir o alimento do estômago à boca.
Fig. Reflexão demorada, persistente e cuidadosa. Os ruminantes têm quatro cavidades no estômago: pança ou rume, barrete, folhoso e coagulador. Apenas este último produz suco gástrico. No pasto, os ruminantes engolem as ervas apressadamente, quase sem mastigar, acumulando-as no rúmen (que, nos bovinos, pode conter até 200 litros). Depois, em repouso, fazem com que o alimento volte à boca em pequenas porções, que remastigam demoradamente e tornam a deglutir.

No estado de ruminação mental o cérebro entra em loop. Aquele pensamento que nos aflige fica recorrente. Nunca é processado. Sempre “volta à boca em pequenas porções, que remastigam demoradamente”
Fica-se remoendo, murmurando, com o disco arranhando.
Não se vira a página da dor, do sofrer.

Aquela sensação acompanha em tudo. Acorda, vem a cena. Dorme, ela tá ali.
Toma-se banho e no meio do chuveiro, vem o pensamento ruminante.
Até na hora do sexo a peste aparece.

O ruminante aluga os amigos ao contar-lhe a mesma cena de dor, e por uma centena de vezes. Cansa a todos. E, cada vez que revisita cena, a ressente, fica-se ressentido.

Tem ruminante que se separou há 15 anos e ainda fala da separação, dos seus motivos e sofreres, como se fosse ontem.
O pensamento ruim cola da psique qual chiclete, ou música da estação.
O ruminar mental é craque em perceber falhas. Perceber o que falta para a felicidade. Já que, no limite, o estado de ruminação teme a paz, o bem-estar, a felicidade, por medo de que esse momento venha a ser-lhe roubado.

Então, numa goza. Sempre está em alta rotação procurando coisas pra encher a cabeça delas, e, coisas ruins. Se ruminasse as coisas boas seria uma maravilha.
Mas só rumina sobre o que lhe deu errado.
Então, cria um mundo em que tudo está em falta, para nele habitar.
Na ruminação nada está bom o suficiente, vive-se na provisoriedade, tudo no ruminar foca no que falta. "A festa de natal foi boa, mas faltaram muitos”. "Essa praia é linda, mas o mar está sujo".  "Minha casa é própria, mas precisa de muitos consertos". "O casamento vai bem, mas poderia ser melhor". "O trabalho é bom, mas os colegas...". "A empresa é boa, se não fosse pelos clientes."

E por aí vai a ruminação. Outra forma de ruminação mental acontece quando algo não deu certo, ficamos martelando, processando, mastigando aquela emoção qual chiclete, ou um disco arranhado.
Ainda têm as mais cruéis das formas horríveis de ruminação: a inveja, mágoa, falta de amor próprio, culpa e ambição aumentando em muito os níveis de estresse e ansiedade para com o viver.  Repreenda pensamentos assim.
Vire as páginas de situações sobre as quais não terá mais nada a fazer, a não ser aceitá-las, ou conviver com as mesmas, mudando a si mesmo.
Identifique pensamentos recorrentes, repetidos e se liberte deles.

Conto-lhe uma pequena história: Um dia esperava meus filhos e pais na sombra de um coqueiro na praia do Bessa, em João Pessoa. Armei a churrasqueira, o isopor, estendi umas toalhas.
No local, havia uns equipamentos de malhação, feitas de forma rústica pelos nativos.
Enquanto esperava eles chegarem ouvia música e contemplava o mar. Eis que chegam ao local três marombados, fortões e me ameaçam. Dizem que sou farofeiro, que estou sujando a praia deles e o local que eles demarcaram para exercitarem-se.

Alego que deixo tudo mais limpo que encontrei e que estou esperando minha família, que não farei bagunça. Eles continuam as agressões agora dizendo que vão fumar maconha naquele local. Eu digo-lhes que nãome importo com a vida deles e que podemos muito bem dividir aquela área. Meu filho, com meus familiares, e logo sente o clima. Peço-lhe calma... aos poucos os marombados vão se acalmando, não sem antes soltar-nos olhares agressivos e provocativos.
Não entramos na deles. Sim, eles acedem vários cigarros de maconha que tapeamos minha mãe dizendo que são de cravo.  Aos poucos vão indo embora.
Passado o susto, divertimo-nos bastante, como nos velhos tempos farofeiros.

À noite, meu filho comenta a situação muito irado. No outro dia, no domingo, volta a comentar a situação, expressando nervosismo e tristeza pela impotência de não termos feito nada. Alega que temia até por mim, caso eles não tivessem chegasse a tempo.

Nesse momento intervi. Falei que os marombados continuavam em nossa família, agora nos nossos pensamentos ruminantes. Que era hora de deixarmos que eles fossem de fato embora. Que cada vez que trazíamos eles, em pensamento, tudo outra vez, ficando ressentidos.

E, o cérebro não distingue o real, o virtual, o imaginário, a fantasia: nas vivências perigosas: despejando uma profusão de hormônios do medo: adrenalina e cortisol. Por fim, falei que era hora de deixarmos aqueles jovens marombados “irem embora de nossas vidas”. Encerrando aquele assunto e virando a página. Pronto, acabou o tema marombando nas férias de veraneio.

E, não voltamos mais àquele local para fazer piquenique. Mudamos a nós mesmos, evitando futuras situações de conflito. E ainda conhecemos outros locais mais bacanas ainda, daquele que por comodidade de ser muito próximo de nossa casa, ficamos a ele preso como única opção. Fica a dica!

Releia a introdução desse artigo, aquela comparação dos pensamentos e emoções com as águas e o curso de um rio, respectivamente.

O modelo mental de um ruminante ao extremo só se alterará com muito esforço e paciência para consigo mesmo.

Ele foi moldado não em dias, mas em toda uma vida nas escolas das instituições que frequentou: família, estudos e trabalho.

Exigirá vontade, e, mais que vontade, coragem para deixar de ser quem é, e isso causa arrepios. Ser quem somos nos traz conforto.
Mudar, riscos. Riscos, medo. Medo, insegurança.

Convido-lhe à insegurança sobre si mesmo. Você e eu não estamos prontos,  e nem sempre certos sobre nosso modo de ser e agir no mundo.

Agora, se for um ruminante trainee, continue.
O ser humano precisa de certa dose de ruminação mental, até para aprender com elas e melhor processá-las.
Se tiver nenhuma ruminação estará doente também, será uma máquina racional.
Só tenha cuidado para não aumentar a dose, paulatinamente, a ponto de criar um hábito de comportamento perverso e incapacitante, no sentido do desenvolvimento do ser.
São nos extremos que moram o perigo dos hábitos da infelicidade. Pense nisto.